O motivo que escolhi viajar de ônibus para o Uruguai foi financeiro. O voo entre São Paulo e Porto Alegre, numa destas promoções de companhias aéreas, saiu por R$ 300; as passagens de ônibus não chegavam a custar R$ 600 ida e volta.
Enquanto isso, a passagem aérea entre São Paulo e Montevidéu custava, na época, mais de R$ 1.200. Se você achar uma promoção para voar direto é perfeito. Mas como eu tinha como plano conhecer os cânions de Cambará do Sul nas férias, a parada em POA foi o esquema perfeito (exceto para a minha dieta, já que poucas vezes comi tão bem em uma cidade. Que saudade da comida gaúcha!).
A viagem de ônibus entre Porto Alegre e Montevidéu dura supostamente 13 horas. Digo supostamente porque depende do tempo que o veículo ficará parado na fronteira: precisa passar pela imigração e alfândega, tanto do lado brasileiro quanto do lado uruguaio. E estes procedimentos todos podem levar algumas horas (amigos relatam que já ficaram até 3h parados ali). Fiquei cerca de 1h30.
Mas a Receita Federal pode me fazer abrir as malas? SIM, e vão te acordar no meio da madrugada para isso. O procedimento é permitido e, se você estiver trazendo compras acima do valor permitido e/ou sem nota, vai pagar imposto; se estiver trazendo coisas ilegais, como maconha, é preso. Mas não se preocupe: alfajor e doce de leite estão liberados.
Seu passaporte viaja com o comissário de bordo do ônibus –ele vai descer e carimbar os passaportes na imigração do país vizinho. Como as duas empresas são uruguaias, eles falam espanhol –mas entendem português, fique tranquilo. Você não precisará descer do ônibus para o procedimento imigratório.
E pode usar só o RG? SIM! Desde que o RG esteja dentro dos 10 anos da data de emissão. Quer dizer, pode usar o RG enquanto o Brasil fizer parte do Mercosul (vai saber, né?).
E como é a viagem em si?
Duas empresas fazem o trajeto entre POA e MDV: a EGA e a TTL. Você pode comprar a passagem pela internet, com o cartão de crédito, e pagar em reais, e não em peso uruguaio. As empresas enviam um voucher da passagem comprada para o seu e-mail, e você deve levar este papel até o guichê da companhia para emitir a passagem real oficial.
As empresas pedem para que você chegue 1h antes de embarcar, como se faz no aeroporto –faça isso, eu não fiz e tomei uma bronca.
Ouvi dos amigos uma série de conselhos para a viagem: vá agasalhado, use meias quentinhas, coloque uma touca, leve água. A única coisa que eu posso te sugerir é: leve um tapa olhos e, se quiser muito, um travesseirinho de viagem. O ônibus tem ar condicionado e, mesmo com temperaturas negativas no inverno no sul do Brasil, dentro dele o clima é bem quentinho. As duas empresas oferecem travesseiro, um bom cobertor, água disponível no fundo do ônibus durante todo o trajeto.
Os ônibus também oferecem duas refeições, wi-fi e café. As duas empresas viajam durante a noite e chegam à capital uruguaia pela manhã, com uma parada em Punta del Este. Ambos têm as opções de semileito e leito (e acredite, o semileito é bem confortável, raramente vai lotado e as pessoas se ajudam –ninguém reserva uma poltrona do lado de outra já ocupada a não ser que isto seja muito necessário. Mas a TTL tem alguns ônibus que são convencionais, ou seja, não possuem a opção do leito –o leito da TTL só sai de POA alguns dias da semana.
Como é a viagem de EGA?
Optei pela EGA não só pelos relatos de amigos que tinham gostado muito de viajar com a empresa, mas pelo horário: os ônibus saíram mais tarde de Porto Alegre, dando a chance de curtir um pouco mais a cidade. Os ônibus saem da rodoviária de Porto Alegre, que fica relativamente perto do aeroporto.
Depois de chegar em cima da hora do embarque e tomar uma pequena bronca em espanhol da comissária (mas juro que foi uma bronca educada e simpática. E, como falo espanhol, me desculpei no idioma dela, me expliquei e ficou tudo bem).
Já dentro do ônibus, na saída de POA nos ofereceram água, refrigerantes e o jantar: refeição quente (na ida foi arroz com almondegas; na volta foi uma massa recheada de queijo), um pão de leite sem recheio, meio sanduíche no pão de forma com presunto e queijo, um bolinho tipo muffin). No fim do jantar, foi oferecido ainda café e chá. Honestamente, me senti a rainha de um voo de companhia aérea internacional fina (daquelas que oferecem comida gostosa e doces chiques).
O café da manhã é simples, mas achei bem honesto: café com leite ou chá, bolachinhas salgadas e um alfajor uruguaio. O refrigerante e a água ficaram disponíveis durante todo o trajeto –o fundo do ônibus não tem as últimas poltronas, mas sim um balcão onde você pode se servir e uma espécie de hall, onde dá para esticar as pernas. No fundo há um banheiro (há outro banheiro na parte inferior do ônibus, nas escadas entre o leito e o semileito).
O detalhe lindo é que a entrada da rodoviária de Punta del Este, onde o ônibus parou, fica bem próxima da escultura da “mão”, lá na praia. Eu vi o nascer do sol exatamente ali –mas estava tão sonolenta que achei que aquela coisa linda era sonho e não me dei conta de que renderia uma foto incrível.
Quem viajou com as duas empresas fala que a uruguaia EGA, além de mais confortável e com ônibus melhores, pode até sair mais barata do que a brasileira TTL.
Quem viajou com a TTL foi a minha amiga Fabiana Maranhão, que morava em Montevidéu. Segundo a Fabi, o ônibus da TTL é mais simples que o da EGA –ela viajou em um dos convencionais, sem leito e, consequentemente, sem andar superior. Ela conta ainda que as refeições eram mais simples –mas as duas dão alfajores!
A Fabi disse ainda que a EGA tem uma tripulação de bordo mais atenciosa, oferecendo as bebidas sempre, sendo mais solicita. Aliás, a Fabi fez o trajeto São Paulo – Montevidéu de ônibus e tem a viagem toda salva nos Stories do Instagram, para quem ficou curioso. E um detalhe: como ela é vegetariana, precisou improvisar as próprias refeições.
Mas você vai de carro? A Mari, do blog Quase Nômade, mora em Porto Alegre e dá todas as dicas de como fazer o trajeto neste post.