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Como é ficar hospedado em uma casa particular cubana?

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Todos dizem que para ter uma experiência cubana mais próxima da realidade, o ideal é ficar longe dos hotéis. E super concordo com isso. No meu planejamento para conhecer a ilha, eu tinha uma única certeza: ficaria em uma casa particular. E foi a escolha mais acertada e incrível que fiz.

Funciona assim: as casas particulares têm uma permissão do governo para receber hóspedes. Para isso, elas precisam atender a alguns requisitos, como ar condicionado. Algumas casas tem até geladeiras ou frigobares dentro dos quartos. Todas servem o café da manhã, e costuma ser cobrado à parte –explico mais adiante o motivo.

Os quartos costumam ser grandes (dá para um casal ou até uma família com filhos fechar um quarto tranquilamente). Muitos têm um banheiro particular, mesmo que pequeno, com chuveiro. E são casas para valer, não são hotéis –você vai ter a chance de trocar uma ideia com turistas, cubanos, vizinhos.

E como você entra em contato com uma casa? Por e-mail ou telefone –vá de e-mail, assim você já tem algum tipo de comprovante de que a reserva foi feita (não que isso faça a diferença). Lá funciona assim: você ficou em uma casa, foi para outra cidade, passeou e quis voltar para a primeira casa? Tenha a certeza de que os donos da casa darão um jeitinho de te hospedar de algum modo, mesmo que seja necessário passar por cima de alguma reserva já efetuada. Mas a pessoa que perde a reserva não fica exatamente na rua, já que as casas são “parceiras” –uma repassa hóspedes para a outra. Quem perder a cama certamente será recolocado em outra casa até conseguir vir para a reserva original, e vem se quiser.

Era aqui que eu tomava o meu café da manhã e papeava durante a noite em Havana. Foto: Talita Marchao

Mas, para manter o contato por e-mail, é preciso ter paciência. Não espere uma resposta rápida. Como a internet lá é cara, as respostas demoram dias –por isso, reserve com antecedência. Algumas já dão a opção de fazer a reserva pelo Booking e pelo Airbnb.

Qual é o lance do café?

Vamos fazer contas: um salário mínimo em Cuba gira em torno de 30 CUC (peso cubano convertível, a moeda do turista, falo mais sobre isso aqui neste post). A diária de um quarto, dependendo do tamanho e do número de pessoas, fica entre 20 e 30 CUC. Você deve estar pensando que dá lucro, certo? Agora coloque na conta que 30 CUC é praticamente nada (um cartão de internet em um hotel pode custar até 5 CUC!). De onde vem o lucro de muitas casas? Das refeições…

Os cafés da manhã são fartos: café, leite, suco, muitas frutas, pão, ovo, tomate, manteiga, normalmente tudo isso por 5 CUC. O lance é que tudo isso é comprado pelos cubanos nos mercados com CUP (a moeda nacional: 1 CUC = mais ou menos 24 CUP). Então, quando você faz as refeições na casa, você está ajudando a família. No caso de almoço ou jantar, o ideal é avisar antes, assim eles compram tudo e preparam com calma e carinho.

A sala e o meu quarto na casa. Foto: Reprodução/Tripadvisor e Talita Marchao

Onde fiquei?

Busquei casas em Havana Velha e Centro Havana, e optei por ficar em uma no segundo bairro. Há casas excelentes também em um bairro chamado Vedado (que lembra bastante a Praia Grande, no litoral de São Paulo). Havana Velha é bem turística, e eu buscava uma experiência mais tradicional. Para isso, Havana Centro foi excelente.

Depois de disparar uns e-mails para casas indicadas por amigos, decidi fazer a minha busca no TripAdvisor. Lá, os hóspedes fazem as resenhas. E assim encontrei a Casa Colonial La Terraza. Achei o site, o e-mail, e mandei ver no e-mail. Deu super certo! Me enviaram até a carta oficial para apresentação no aeroporto dizendo que eu ficaria hospedada na casa (é necessário, mas não me pediram na imigração). Reservei minhas primeiras quatro noites. Para não ter toda essa mão de obra para reservar, você pode fazer pelo Booking por meio deste link.

Achei meio “vida loka” demais ir para um país sem internet fácil com somente 4 noites reservadas. Mas faz total sentido: como uma casa indica o hóspede para a outra, as casas de Havana sempre conseguem te mandar para casas parceiras em qualquer cidade da ilha –e foi assim que me hospedei em Trinidad.

E como foi a minha estada?

A casa é da Nora, mas é cuidada por Leo e Henrique. Ele me buscou no aeroporto e me recebeu com muito carinho, ela foi uma mãezona me adotando.

O Henrique e a Leo, minha família cubana

Leo me deu almoço assim que descobriu que eu tinha viajado mais de 14 horas sem café da manhã e almoço (só com gororoba de avião). E me ofereceu a janta na última noite. Era carne de pavão (sim! Parece carne moída de vaca) com mandioca cozida e estava delicioso.

Todos os dias, ela me dava uma garrafa de água tratada na própria casa para ficar no quarto durante a noite. Cedo, eu devolvia a garrafa e pegava outra, fresquinha, para levar comigo durante o dia turistando. Eu só não podia jogar a garrafa fora, já que era reaproveitada para armazenar água. E ela dizia: não beba água fora da casa, não é confiável. E não passei mal nenhum dia!

Nas minhas noites no terraço, as conversas com o Henrique valiam super a pena. No papo, acompanhado de cerveja e bolacha no terraço durante a noite, falamos da vida em Cuba, do porto de Mariel, de novelas, dos paladares, de dicas de passeios, do assédio dos acompanhantes, de tanta coisa!

O café da manhã lá na casa em que fiquei na verdade era preparado pela Lirita –tipo café terceirizado, sabe? Ela tinha um espaço para preparar no terraço e o servia ali. Como eu comia bem menos do que ela servia, a Lirita acabou me cobrando só 3 CUC todo dia (ela dizia que eu comia como passarinho). Batemos altos papos também. Eu chegava cedo para o café e só saía da mesa depois das 10h, papeando e atrapalhando-a a cozinhar.

Em Trinidad, a casa era excelente. Mas o tratamento foi estranho. Fiquei na casa de um cubano apaixonado por Hugo Chávez e pela Venezuela, homofóbico e que dizia que os cubanos vivem e comem como animais. Na verdade, a casa que a Leo tentou me colocar estava cheia, e eles me passaram para esta casa desse povo estranho. O lance é que você pode trocar de casa se não se sentir confortável ou seguro –não mudei porque ficaria só 3 dias ali, e depois me arrependi. Deveria ter saído de cara, quando o cara veio fazer o café da manhã sem camisa e me serviu assim (mas o café da manhã era super farto).