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Trinidad, a Paraty cubana ou a cidade parada no tempo

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Foto: Talita Marchao
Foto: Talita Marchao

Todas as pessoas que tinham viajado para o interior de Cuba me indicaram ficar um tempo em Trinidad. Nada contra, muito pelo contrário. Mas caí na bobagem de usar Trinidad como base para conhecer o interior, e foi a pior decisão que eu poderia ter tomado.

Trinidad é ligada por apenas uma estrada, tem uma rodoviária super pequena com poucos horários de ônibus e todas as linhas que seguem para Havana de lá param em Cienfuegos (sem pensar 2x, faça sua base em Cienfuegos, que é uma cidade com um tamanho bom, com infraestrutura, muitas linhas de ônibus, fácil acesso a outras cidades e é linda). Para pesquisar uma casa em Cienfuegos no Booking, clique aqui e encontre as casas que já estão cadastradas no site, permitindo a reserva online.

Mas vamos falar de Trinidad: é uma das cidades mais antigas (e lindas) de Cuba. Fundada em 1514, é considerada patrimônio da Unesco e mantém até hoje as características de cidadezinha colonial (ou pelo menos tenta). Casas térreas com pé direito alto, janelões, chão de pedra. Quando você caminha por Trinidad, tem a impressão de que está em Paraty, no Rio de Janeiro (que só foi fundada em 1667).

Foto: Talita Marchao

É uma cidade turística. Tem duas praças e só (e são os únicos locais em que você vai encontrar sinal de wi-fi). Se caminhar com tranquilidade, conhece a cidade inteira em uma tarde. Se pernoitar, pode conhecer as escadarias da Casa de la Musica, onde rolam uns shows e, quando a área não é isolada para os clientes, é possível sentar, tomar uma cerveja (ou um mojito ou uma cuba libre) e curtir a apresentação. Pode ir para a balada na tal da caverna (eu não fui, não é o meu tipo de turismo, mas apoio quem quer dançar em uma caverna).

Foto: Talita Marchao
Foto: Talita Marchao

Caminhando com paciência você pode conhecer lugares mais próximos do cotidiano cubano: a biblioteca, a escola primária, o clube de xadrez. Repare no pessoal levando o notebook para a praça para usar (e/ou rotear) o sinal de internet. Na Plaza Carillo, você compra o cartão de wi-fi no ponto de venda oficial do governo, acha a cadeca (foi a única casa de câmbio que encontrei em Trinidad) e até umas comidinhas mais baratas em moeda nacional. Mas os mercados são caríssimos.

As casas são (quase) todas térreas, com pé direito alto e os tradicionais janelões de Trinidad. O que está rolando, a passos muito lentos, é uma espécie de verticalização por causa da demanda turística. A pessoa que hospedava turistas em um quarto ou dois passa a subir quartos na parte de cima da casa, assim bota mais gente hospedada. E aí a cidade vai perdendo suas características histórias. Me contaram que durante a alta temporada tem tanta gente na cidade que muitos turistas, que vão pra cidade sem reserva, acabam dormindo nas escolas da cidade.

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Foi lá que eu tive uma das demonstrações mais fofas de carinho dos cubanos. Durante a chuva torrencial, um senhor me ofereceu a casa. Sim, ele abriu a casa para uma turista estrangeira estranha. Recusei e ele começou a gritar ofendidíssimo: “soy cubano, no soy ladrón”, e respondi que estava a uma quadra de casa (fiquei com vergonha de aceitar porque sou babaca).

Acabei pedindo ajuda para uma senhora que estava na porta de casa no próximo quarteirão observando a chuva. E ela também me convidou para entrar, sentar em sua sala enquanto ela observava o mapa. Até que ela começou a rir: “Você está hospedada na casa ao lado, na casa de Júlio”. Sim, eu pedi ajuda perdida na vizinha.

Foto: Talita Marchao
Foto: Talita Marchao

Onde (não) ficar

Sobre a casa em que fiquei: não indico. Ela era muito confortável, tinha ar condicionado, café da manhã incrivelmente caprichado, bom banheiro com água quente. Mas a casa ficava vazia o dia todo. Eu só conversava com o dono da casa durante o café da manhã (que ele preparava sem camisa e só vestia roupa quando eu aparecia para comer). Perdi completamente a experiência de viver em uma família cubana em outra casa.

Se você quer reservar uma casa em Trinidad, o Booking tem lugares cadastrados. Você pode fazer a reserva online sem a tradicional e demorada troca de e-mails com os proprietários.

A casa foi indicação da senhora de Havana, então eu esperava algo parecido com o carinho que recebi lá. Para engano, quando cheguei em Trinidad, fui parar em uma casa diferente da que havia sido reservada (eles fazem isso. Aceitam a reserva e botam em qualquer lugar).

Ele era homofóbico. Tratou bem o casal lésbico, mas assim que elas viraram as costas ele disparou a me dizer coisas horríveis sobre elas. Era anti-Castro, mas pró-Hugo Chávez. Viveu anos na Venezuela trabalhando e voltou quando ficou desempregado lá. Com o dinheiro que ganhou na Venezuela, construiu a casa para receber turistas. E obviamente não era uma casa registrada no governo.