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Como visitar o Edifício Martinelli?

A vista do Edifício Martinelli é, sem dúvida, a minha favorita em São Paulo. E não só por ter a entrada gratuita, mas por ter o prédio do Banespa na vista e muito espaço no terraço para circular e fotografar. A boa notícia é que a visitação foi retomada (temporariamente). 

Como parte das comemorações dos 100 anos do Edifício Martinelli, a visitação gratuita ocorrerá durante 100 dias a partir de 14 de março. A visita grátis é feita dentro do projeto da prefeitura de São Paulo, o Vai de Roteiro, que realiza passeios por toda a cidade. A reserva de ingressos grátis para visitar o Edifício Martinelli é feita pelo Sympla.


Para conhecer o terraço do Martinelli, é preciso fazer a retirada de convites on-line para controle de capacidade –nas redes sociais, o perfil oficial do Martinelli (@edificiomartinelli) alerta quando está prevista a liberação de novos lotes, que costuma ocorrer às segundas-feiras ao meio dia.

Vale lembrar que as visitas foram retomadas temporariamente. Isso porque a exploração do espaço foi concedido para a iniciativa privada pela Prefeitura de SP (e já esperamos que o preço para visitação será alto). O tradicional mirante vai virar restaurante, espaço de festas/eventos privados/baladas. É uma pena: era um terraço lindo (mesmo que a gente não pudesse visitar a casa que existe lá em cima).

E se você não sabe de que terraço estou falando, vale rever a cena da novela em que a Maria Casadevall se casa de vestido azul lindo lá em cima (e depois será traída na lua de mel e vai pegar o Caio Castro).


Apesar de todas as lendas do prédio, passei uma hora no Edifício Martinelli e o único fantasma que vi foi a minha cara de cansada no espelho do elevador. Quando estive lá, o bombeiro-guia que nos acompanhou na visita monitorada ao terraço fez questão de lembrar dos crimes enquanto acompanha o grupo — só parei de fotografar na hora em que ouvi as palavras “sala de cadáveres” e “ossadas no fosso do elevador” e fiz aquela cara de “OI?”

O Martinelli é um prédio da década de 1920. Entre 1934 (quando sua construção foi concluída) e 1947, foi o maior prédio de SP. Depois década de 1960, acabou abandonado, ocupado por famílias mais pobres e moradores de rua. Como o lixo não era recolhido, ia parar no fosso do elevador inutilizado (e os cadáveres também).


O terraço é lindo, mas não dava pra visitar a casa que foi construída lá em cima. E a vista? A vantagem é que obviamente dá para ver o Farol Santander (o prédio do Banespa para os mais antigos). Mas vale a visita ao Martinelli? Sim, super vale.

Saiba mais sobre a história do Edifício Martinelli

Construído entre 1924 e 1934, o Edifício Martinelli é considerado o primeiro arranha-céu da América Latina. Com seus 30 andares, ou 105 metros de altura, foi um marco inovador na época, desafiando as convenções e transformando a paisagem urbana da cidade (as pessoas, na época, temiam que o prédio caísse, já que ele era muito alto para os padrões).

A história do Edifício Martinelli é tão rica quanto sua arquitetura. Giuseppe Martinelli, um imigrante italiano que se estabeleceu no Brasil, vislumbrou a construção de uma estrutura monumental que não apenas serviria como um prédio comercial, mas também como sua residência (provando que o edifício era tão seguro que ele mesmo moraria no topo). O edifício abrigava escritórios, lojas e apartamentos de luxo, incluindo um palacete no último andar que servia como a residência do próprio Martinelli.


A estrutura foi projetada pelo arquiteto húngaro William Fillinger, e a obra foi executada por uma equipe diversificada de profissionais de diversas nacionalidades. O Edifício Martinelli foi inaugurado em 1929, coincidindo com a Grande Depressão, o que trouxe desafios econômicos para o empreendimento, mas também ressaltou sua resiliência ao longo do tempo.

Quebrado após a crise de 1929, Giuseppe Martinelli perde a propriedade do prédio, que passa a ser do governo italiano, que havia lhe concedido empréstimos para a construção. Com o fim da Segunda Guerra Mundial e a expropriação de bens dos italianos (derrotados no conflito), o Edifício Martinelli passa a ser do governo brasileiro. Aliás, ele perde o título de prédio mais alto de São Paulo para o Edifício Altino Arantes, o prédio do Banespa, em 1944 (antes de a guerra acabar).

Ao longo das décadas, o Edifício Martinelli passou por diversas transformações e desafios, desde seu uso original até períodos de negligência e abandono. A partir dos anos 1960, chegou a ser ocupado por cortiços, prostíbulos e pontos de tráfico de drogas; os elevadores não funcionavam, e os poços dos elevadores passaram a acumular lixo (até cadáveres foram encontrados ali). O lixo chegou a se acumular no poço do elevador até alcançar o 6º andar.


No entanto, em 1975, foi declarado patrimônio histórico pela Prefeitura de São Paulo, o que contribuiu para sua preservação e restauração ao longo dos anos. Foi preciso mandar militares para desocupar o edifício. Em 1979, é reinaugurado com algumas repartições do governo instaladas ali.

Hoje, o Edifício Martinelli permanece como um ícone da arquitetura e da história da cidade de São Paulo. O palacete no último andar está sendo restaurado, e o mirante (hoje fechado para o público) proporciona uma vista deslumbrante da metrópole.

Por que o Edifício Martinelli é considerado mal assombrado?

A fama de mal assombrado do Martinelli vem dos crimes bárbaros que ocorreram ali, que alimentam as lendas (e relatos de barulhos estranhos, oscilações de eletricidade, energia pesada e até da sua própria “loira do banheiro sem rosto”).


Além dos relatos de casos de suicídio, reportagens antigas contam sobre ao menos dois casos de assassinatos que ocorreram dentro do Martinelli e ficaram famosos: em 1947, um adolescente chamado Davilson teria sido morto e atirado no poço do elevador (os jornais da época relataram que ele teria sido encontrado sem o paletó e com as abaixadas até os joelhos); em 1965, uma moça chamada Márcia Tereza teria sofrido um estupro coletivo, praticado por cinco homens, em um dos apartamentos do prédio.

O jornal Notícias Populares de 1965 também conta o caso de Neide, uma jovem que teria caído (ou sido jogada) de um dos apartamentos do alto do Martinelli. Ela teria marcas de esganadura e choques nas mãos –ela tinha dívidas de jogo, segundo autoridades da época. Em 1972, uma moça de 17 anos chamada Rosa também caiu (ou foi atirada) do alto do edifício. Um dos sapatos dela chegou a ser encontrado no 17º andar.